A felicidade do filha da mãe

Onde é que eu estava com a cabeça quando resolvi voltar a correr?

Passei por uma situação Woody Alliana, como diria minha irmã, há uns dias durante uma dessas corridas. Passava eu da marca dos 6 km percorridos quando avistei um grupo grande de mulheres fazendo caminhada. Ziguezagueando entre as sete ou oito mulheres tinha um cachorro, de grande porte, extremamente feliz, pois, sei lá, é um cachorro e estava passeando.

Dona Pandora, minha cadela, correndo pelo pasto. Detalhe na felicidade e na sujeira que a lama deixou em suas patas

Para acentuar a felicidade canina tinha uma poça de lama, na sarjeta da via, onde esse cachorro passava correndo escorregava numa felicidade que poucas vezes vi nessa vida.

A cena era digna de Dog TV, um canal aí, e que me deixou muito feliz de presenciar, a ponto que me deixei rir normalmente, sem tentar esconder o sorriso e em seguida a risada.

Eis que ouço como resposta, da Moça-Mor, ou que ao menos parecia ser a líder daquela esquadra, a seguinte devassa:

“Do que é que esse filha da puta está rindo?”

Velho, eu estava rindo do cachorro feliz. Não ofendi ninguém! Não agredi ninguém! Não ri de ninguém a não ser da simplicidade da felicidade canina!

Fiquei tão atônito que não tive coragem de olhar pra moça que falou aquilo. Todas as outras mulheres que estavam com ela pararam de conversar depois do que ela falou.

Minha sorte era que elas estavam caminhando e eu correndo, o que me fez passar relativamente rápido pela situação. Saí para 10 km, mas naquele instante eu só queria ir direto pra casa.

Dezenas de metros depois comecei a tentar entender a situação. Qual seria a razão para aquela frase? Ela ficou puta por eu estar rindo do cachorro se lambuzando todo de lama? Se afirmativo, ela não conhece o próprio cachorro a ponto de deduzir que aquilo poderia acontecer? Ela não tem medo de expressar esse tipo de reação, assim, na rua, para estranhos? Eu não teria coragem de me expressar assim nesse mundo de hoje. Sei lá, perigoso demais. Por muito menos trocam tiro por aí no trânsito, por exemplo.

Dona Pandora, no primeiro plano com suas parceiras de bagunça no pasto ao fundo, a Penépole, a Maçã e a Neguinha

Ao alcançar a marca dos 8 quilômetros eu já estava de humor restabelecido por conta daquelas coisas químicas que acontecem conosco durante atividades físicas. Nem me recordava mais do fato quando, ao dobrar uma esquina, me deparo com a esquadra das mulheres e seu cachorro feliz. O desânimo bateu novamente e encurtei o caminho. Dali até em casa se somaram mais 480 metros. Bem aquém, quando se corre, dos 10 km que planejara para aquela tarde.

Sentei na calçada aqui em frente de casa. Ouvi o “que bom que você voltou” da minha cachorrinha, a Pandora. E ficamos lembrando do tempo em que a gente sempre finalizava os passeios no pasto, aqui perto de casa, indo até o brejo que fica lá no fundo. E lá, ela e parceira dela que já se foi, a dona Penélope, se lambuzavam todas com aquele barro. Elas adoravam isso. Sempre ficavam serelepes por ali. E eu filmava e fotografava satisfeito. Não xingava ninguém.

Onde é que eu estava com a cabeça quando resolvi voltar a correr?

Dona Pandora parecendo um Lobo-Guará correndo pelo pasto

Só mais uma fotinha da dona Pandora fazendo cosplay de Lobo Guará.

Todas fotos são de 2013.

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