COVID-19 vs Bug do Milênio

Em 1998 li na Veja algo sobre o tal Bug do Milênio e o quão danoso ele poderia ser para nossa economia na virada do ano 2000. Na gringa eles também chamavam o evento de Y2K. Parece genérico, Year Two Thousand – Ano Dois Mil, mas era. Estava prestes a ingressar em um colégio cujo segundo grau era para formação de técnicos em processamento de dados e logo isso se tornaria “o assunto” nas aulas de algoritmo e programação.

Foto de uma estudante levantando uma bandeira durante o Protesto do dia 15 de maio de 2019 em GoiâniaPara explicar o Bug do Milênio de forma bem simples é mais ou menos o seguinte: A maioria absoluta dos programas de computadores interpretavam as datas em seis dígitos, sendo dois para dias, dois para meses e dois para anos – (DD/MM/AA). Estávamos à beira de chegar ao ano 2000, o que levaria os programas interpretarem, assim que virássemos o ano, 31/12/99 para 01/01/00, que estávamos em primeiro de janeiro só que de 1900. Essa era a previsão e o medo.

O que poderia acontecer diante desse erro? Os bancos zerariam ou multiplicariam os valores nas contas dos correntistas? Os satélites continuariam a funcionar? E os satélites de GPS? Os computadores parariam de funcionar? Hospitais, usinas hidrelétricas e outras plantas que dependiam mais e mais de sistemas informatizados continuariam funcionando? O que dizer de tudo que era e estava sendo informatizado naquele período?

Pois bem. Computadores em casa não eram uma realidade aos brasileiros na virada do milênio. Tive a sorte de ser um único, entre meus colegas de bairro, a ter um computador em casa. Era algo meio classe média mesmo. Acredite. Logo não era algo que grande parte da população se importava.

Para não virar um texto prolixo demais, o resumo foi: Nada aconteceu. Praticamente nada aconteceu na vida da maioria absoluta dos brasileiros. Na verdade nada aconteceu praticamente a quase toda população do mundo. Alguns países nem sequer fizeram algum tipo de plano de contenção de crise. O caso mais comentado foi de uma usina nuclear, no Japão, em que houve disparo do alarme, mas não passou disso. Credo!

Mas enfim, qual é a moral da história, que o povo ou a imprensa faz alarde demais e no fim nada acontece?

Não e explico.

Para que passássemos ilesos a todo esse processo o governo norte americano investiu alguns bilhões de dólares para que o setor de TI fizesse a correção. Não só esse governo, os ingleses também investiram e, acredite, até o Brasil! Isso sim fez com que não sentíssemos nada do que poderia ocorrer. Os caras trabalharam direitinho, tiveram muito tempo para tal, e isso fez com que nada percebêssemos.

Que fique o exemplo para esse período sombrio que estamos passando. Escrevo isso no dia 25 de março de 2020, no meio da pandemia do COVID-19 – na verdade no meio da quarentena. Foi preciso investimentos onerosos aos governos e empresas para que pudéssemos passar imunes ao Bug do Milênio.

Atualmente há uma turminha que vive utilizando o Y2K como exemplo de histeria que não resultou em nada. Normalmente é o mesmo tipo de gente que opta por filtrar, na história, a parte que lhes é interessante e não todo o contexto. É o mesmo tipo de gente que diz que não houve ditadura ou que até admitem a ditadura, mas afirmando, por tudo, que foi um ótimo período para o povo brasileiro. Como se privar liberdades tivesse algo de bom.

Nós temos toda capacidade do mundo de aprender com o passado, mas a ideologia cega. Chegamos a 2020 e grande parte do povo brasileiro acha que democracia demais é ruim. Liberdade demais é ruim. Ciência demais é ruim. Não há como defender esse povo. Me desculpem, mas não há.

Estudantes protestando no 15 de maio de 2019 em Goiânia

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