Hoje mais cedo uma viatura da guarda municipal de Goiânia parou aqui do lado de casa. Parece que foi a vizinha, quase da frente, quem a chamou. Bem diferente do que normalmente ocorre aqui na vizinhança, periferia, estava tudo calmo demais.
Quando a viatura chegou essa mesma vizinha estava recebendo alguém que viera consertar sua moto, uma jog (aquelas scooters dos anos 90/00) super barulhenta. Estava sentado aqui no computador quando percebi as luzes do giroflex na rua. Não é preciso nem me dar o trabalho de me mexer pra ver toda a movimentação, inclusive ouvir tudo, daqui da escrivaninha.
Inicialmente pensei que se tratava de uma abordagem rotineira por verem, sei lá, um amontoado de pessoas ao redor de um cara que parecia estar mexendo numa moto. Mas não pareceu se tratar disso. O volume da conversa baixou e não pude mais ouvir nada da celeuma de outrora. Por um breve momento fiz umas conexões resultantes de umas notações dos últimos dias.
Estou indo para o trabalho de carro, ultimamente, e passei por esta vizinha, em deslocamento, diversas vezes. Teve uma semana que passei por ela todos os dias. Na outra semana ela começou a fazer esse mesmo caminho de bicicleta. Já na quinta, sexta-feira e nessa segunda deu pra perceber que ela chamou um carro por aplicativo.
Imaginei, pouco tempo depois da guarda municipal chegar, que poderia se tratar de algum incidente que acontecera durante o trajeto dela ao trabalho. Comecei a pensar nas vezes em que quis oferecer carona, mas que algo me impedira de fazer. Cheguei a comentar com minha mãe, quando contei que a vizinha fazia um trajeto um tanto hostil, mas ela só fez um comentário genérico do tipo – Ela parece ser trabalhadora. Bem, minha mãe também é minha vizinha, logo ela deve saber um pouco sobre essa outra vizinha. Do pouco que conheço minha mãe, só 36 anos, esse “ela parece ser trabalhadora” significou que sim, ela daria carona, ou que eu deveria oferecer carona.
Fiquei remoendo essas ideias na cadência do giro das luzes da viatura. Queria ouvir a conversa, mas não conseguia me levantar a fim de achar um lugar melhor para escutar. Por fim consegui me levantar, mas fui direto para o banheiro. Tomei um banho. Tentei me limpar da suposta sujeira que poderia ter ajudado indiretamente a promover por omissão. Nesse ínterim a viatura partiu. Um curto alerta com a sirene foi a deixa. Saiu devagar, nada de correria, só mais uma segunda-feira.
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Todas fotos são aqui da rua de casa em 2007, 2009 e 2019 respectivamente.
(um dia consigo diagramar esse troço!)